CELEBRAÇÃO DA SEXTA-FEIRA SANTA – PAIXÃO DO SENHOR

Publicado por Maria Aparecida de Cicco
“A Paixão de Cristo representa a máxima expressão do sofrimento humano, que, na entrega do Redentor, recebe uma significação nova e profunda ao ser associado ao amor” (CNBB. Texto Base da CF/2012, n.205)

Neste dia de silêncio, vamos contemplar a fidelidade de Jesus ao Pai em seu grau máximo, passando pelo sofrimento e pela morte. Ele foi fiel ao projeto divino até o fim, até as últimas conseqüências.
1. Situando-nos
Hoje, sexta-feira, dia sagrado e solene, ao mesmo tempo, sóbrio e austero. A Igreja, acompanhando os passos de Jesus Cristo, faz memória de sua Paixão e Morte na cruz. A humanidade sensibilizada e reconhecida, para adiante do Filho de Deus, nascido da Virgem Maria que “passou a vida fazendo o bem a todos”. O justo é condenado por júri injusto: testemunhas falsas, torturas, autoridade lavando as mãos covardemente, cenas de violência e de morte.
O drama da Paixão de Jesus é, hoje, o drama do sofrimento do povo, de tantos enfermos que, para chegarem a um razoável atendimento, se vêem obrigados a uma via-crúcis. São as filas às portas e nos corredores dos hospitais e nos órgãos de atendimento público. “É a dura realidade de irmãos e irmãs que não tem acesso à assistência de Saúde Pública condizente com suas necessidades e dignidade” (CF/2012).
No dia de hoje, somos convidados a mergulhar nos mistérios da Páscoa da Paixão, participando da celebração da Palavra que tem como centro a narração da Paixão de Jesus, segundo João, e como ponto culminante a “adoração da santa cruz”, após a oração universal. A Igreja, hoje, não celebra a Eucaristia.
No silêncio deste dia, contemplando e adorando o Crucificado, cheguemos ao reconhecimento de seu mistério: “de fato, esse homem era mesmo o Filho de Deus” (Mc 15,39). Solidário com os sofrimentos do divino Redentor e dos membros de seu Corpo receba força para viver da esperança e da vitória que nasce da cruz.
2. Recordando a Palavra
O Evangelho nos apresenta a narração da Paixão de Jesus, segundo João (cap. 18-19). Concluído o discurso de despedida e a oração pela unidade, Jesus se retira com os seus para o Jardim das Oliveiras. Outrora, do jardim do Éden veio a perdição, agora, do jardim das Oliveiras vem a salvação.
O traidor conduz os guardas para o local a fim de prenderem Jesus. Depois de ter passado pelo interrogatório de Anás (Jo 18, 12-23) e do sumo sacerdote Caifás (Jo 18, 24-27), Jesus é conduzido para o tribunal romano, presidido por Pilatos, onde será julgado e condenado por acusações sem consistência. Seus acusadores apenas afirmam: “Se ele não fosse um malfeitor, não o entregaríamos a ti”.
Pilatos, querendo se eximir da responsabilidade, provoca os judeus: “julgai-o conforme vossa lei”! Os líderes dos judeus clamam por sua morte e só precisam da licença do governador para conduzi-lo à terrível morte da cruz. Pilatos, contudo, percebe que Jesus é rei, mas um rei diferente dos reis que o poder romano já havia sentenciado.
Ante a verdade que não lhe interessa. Pilatos lava as mãos, atendendo ao grito do povo, condena Jesus e liberta Barrabás. Aquele que não se prevaleceu por sua condição divina é, agora, humilhado e obrigado a carregar a cruz até o calvário e ali é crucificado com outros dois. Erguido entre o céu e a terra, de braços abertos, entre a sua Mãe ao discípulo amigo.
E, tomado por uma sede mortal, vendo que tudo estava consumado, inclina a cabeça entrega seu espírito ao Pai. Não bastando a violência dos algozes, seu coração é atravessado por uma lança, e imediatamente jorram sangue e água. Descido da cruz por amigos, seu corpo é sepultado num jardim. Desse modo brotará a árvore da vida (Evangelho).
O profeta Isaías relata o quarto canto do Servo sofredor que, na época, referia-se aos sofrimentos do povo no exílio da Babilônia. A tradição cristã, porém, vincula este cântico à paixão de Jesus de Nazaré. O Servo de Javé orienta toda a sua luta para uma nova realidade: os opressores, que, convertidos, reconhecerão sua culpa mediante o sofrimento do Servo, causado por eles.
Eles serão salvos, libertos e curados por este mesmo Servo. Assim, a vitória final será a conversão dos opressores, alcançada pelo testemunho perseverante e fiel do Servo. É uma confissão pública e coletiva dos culpados pelo sofrimento causado ao povo (cf. MESTERS, C. A missão do povo que sofre. Petrópolis: Vozes, 1981. p. 14) (1ª Leitura).
Ante a crua realidade do sofrimento, o salmista lamenta tanta dor e manifesta sua confiança na justiça de Deus que ampara os justos, atitudes que refletem o proceder de Jesus tomado pela violência e sofrimento da paixão – Salmo 30 (31).
A Carta aos Hebreus revela que Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, foi provado em todas as coisas, menos no pecado. Ele viveu profundamente a condição humana, até sua paixão e morte. Solidário com o gênero humano, Deus escutou seu clamor e se agradou de sua oferta (2ª Leitura).
3. Atualizando a Palavra
A sexta-feira santa, no conjunto de suas celebrações litúrgicas e das expressões da religiosidade popular, nos ajuda na contemplação do mistério do sofrimento e da cruz, que se levanta ante os olhares humanos, brotam centelhas de esperança para os oprimidos pela dor.
Jesus foi “enviado ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele (Jo, 317). Ele não estava buscando a morte, mas a vida plena. Contudo, não se pode produzir a vida sem doação. A vida é fruto do amor e germina lá onde há amor pleno. Onde a doação de si mesmo é total. Não há amor maior do que doar a vida pelos amigos (cf. Jo 15,13). Amar é doar-se sem se poupar, até desaparecer. A morte é condição para que a vida se manifeste (cf. Lc 9, 24). A morte de Jesus não deve ser vista como um acontecimento isolado, mas como culminância de todo um processo de entrega de si mesmo. A entrega total, no alto da cruz, é o último gesto de doação e sela a definitiva entrega. O mistério da cruz revela o significado mais profundo do amor e constitui-se numa resposta às perguntas decisivas para a existência humana, especialmente sobre o mal e o sofrimento” (cf. texto base da CF 2012, nn. 200 e 203).
“A pregação da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que são salvos, para nós, ela é força de Deus” (1 Cor 1,18). Paulo Apóstolo nos ajuda a compreender o mistério da cruz. “A cruz é a realização mais perfeita das apalavras: ‘Meu Pai… não se faça como eu quero… faça-se a tua vontade’ (Mt 26,42). A livre aceitação da cruz atesta o amor do Filho pelo Pai e a confiança em sua obra de salvação. A verdade do amor se prova mediante a verdade do amor se prova mediante a verdade do sofrimento extremo na cruz” (texto base da CF 2012, n.204).
João Evangelista, o amigo de Jesus, numa narrativa repleta de detalhes e novos personagens, revela que, durante todo o processo que resulta na sua condenação e morte de cruz, Jesus é o Senhor de todos os atos. Mostra não tanto a condenação de um subversivo político, mas a hora da verdadeira glorificação do Filho de Deus. Sereno, ele se despede de seus amigos, de sua mãe que está junto à cruz e depois entrega o espírito.
Os fatos as artimanhas políticas e religiosas das autoridades judaicas e romanas tinham por objetivo tirar a vida de Jesus, na verdade, permitiram que Jesus fosse elevado para Deus. Desde sua prisão, Jesus, serenamente, como “cordeiro levado ao matadouro, ele ficou calado, sem abrir a boca” (Is 53,7), entrega sua vida. “Dou a minha vida para depois retomá-la. Ninguém a arrebata de mim, mas eu a dou livremente” (Jo 10,17-18).
Por isso, a narrativa da morte de Jesus, segundo Evangelho de João, é feita com muita solenidade, pois, quem morre é o Senhor da vida, consciente da missão que tinha recebido do Pai. Sabendo Jesus que tudo estava consumado, inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 10,17-18).
Ele que tinha vindo da parte do Pai, agora realizada a missão que lhe fora confiada, retorna para o Pai. A narrativa do drama da paixão do Senhor revela como a força da vida e da ressurreição já estava presentes e atuantes na hora da própria morte. Esta se transforma em fonte de vida e de luz.  “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).
A morte de Cristo na cruz tornou-se uma fonte da qual brotam rios de água viva, nela e por ela, Deus amou tanto o mundo que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jo 3,16).
4. Ligando a Palavra com ação litúrgica
A sexta-feira santa não é um dia de luto. Apesar do silêncio respeitoso observado pela sociedade, a Igreja não celebra um funeral, mas a morte vitoriosa do Senhor, geradora de vida nova para os seus seguidores. Olhando para a cruz, a Igreja canta: “Vitória! Tu reinarás. Ó Cruz! Tu nos salvarás!”
“Neste dia em que Cristo nosso cordeiro pascal foi imolado, a Igreja, meditando a Paixão do seu Senhor e adorando a cruz, comemora o seu próprio nascimento do lado de Cristo que repousa na cruz e intercede pela salvação do mundo todo” (Carta Circular da Congregação do Culto Divino: Paschalis Sollenitatis: A Preparação e Celebração das Festas Pascais, 58. Documento Pontifício n.224) (Nas páginas seguintes este Documento Pontifício será citado com a seguinte sigla: PDFP).
A proclamação da Palavra de Deus, em particular a narração da Paixão de Jesus Cristo, segundo São João, é o elemento central e universal da liturgia da sexta-feira Santa. Da proclamação e escuta da Palavra, brota a oração de súplica a Deus para que, em sua misericórdia, recorde e santifique a Igreja, o Papa, os Bispos, os catecúmenos, os judeus, todos os que crêem em Jesus Cristo, os que não acreditam, os governantes e todos os que sofrem provações.
Na solene adoração da santa cruz, trazida em procissão e apresentada à assembléia dos cristãos, a Igreja volta seu olhar para o mistério do calvário, isto é, para a obra da redenção realizada por Cristo pregado na cruz. Não se adora a cruz em si mesma, mas aquele que, do lenho da cruz, doou sua vida para a nossa salvação.
“Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. Vinde, adoremos!” Assim, “adoramos, Senhor, vosso madeiro; vossa ressurreição nós celebramos. Veio a alegria para o mundo inteiro, por esta cruz que hoje veneramos!”
O povo adora e aclama a vitória do amor sobre o ódio e a violência; da verdade sobre a mentira; da justiça de Deus sobre a injustiça dos poderosos. Beijando a cruz do Senhor, as pessoas manifestam seu compromisso solidário coma causa pela qual o Filho de Deus doou sua vida. Da causa de Jesus, um rei diferente, sem exércitos e sem súditos; cujo poder é o serviço; o trono é a cruz; a meta é a paz e a vida abundante para todos.
Ao comungarmos seu corpo, assimilamos sacramentalmente sua entrega pela salvação da humanidade, a fim de que possamos viver o quê e como ele viveu. Por esta razão, após a comunhão, o ministro reza: “Ó Deus, que nos renovastes pela santa morte e ressurreição, para que, pela participação deste mistério, vos consagremos sempre a nossa vida”.
Na fé cristã, a Cruz é expressão do triunfo sobre o poder das trevas e, por isso, muitas vezes é apresentada com pedras preciosas e se tornou sinal de benção.
Enviado por D. Vilson Dias de Oliveira - Bispo da Diocese de Limeira


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